10 de outubro de 2014

Testemunho do casal brasileiro no Sínodo da Família























Em uma sessão da manhã de quinta-feira sobre os "Desafios pastorais relativos a uma abertura à vida", os brasileiros, Arturo e Hermelinda Zamberline deu um testemunho sobre a contracepção. Eles estão casados há 41 anos e tem três filhos e também são os líderes do movimento "Equipes de Nossa Senhora", um movimento católico internacional.

Confira na íntegra o testemunho do casal brasileiro Arturo e Hermelinda Zamperlini no Sínodo dos Bispos sobre família

Tema: “A abertura dos cônjuges à vida”

Boletim da Santa Sé

Sua Santidade Papa Francisco
Eminentíssimos Senhores Cardeais
Excelentíssimos Senhores Bispos
Reverendíssimos Senhores Padres
Prezados Senhores e Senhoras

Inicialmente, queremos registrar nossa gratidão ao Santo Padre pela confiança em nós depositada ao nos convocar. Estamos imensamente honrados. Contudo, não escondemos nosso temor por tamanha responsabilidade. Desde já dizemos: estamos aqui como casal, trazendo nossa vivência familiar e pastoral. Não somos teólogos, nem especialistas no assunto. Somente a confiança em Deus nos tranquiliza.

Somos Hermelinda e Arturo, brasileiros, casados há 41anos. Temos 03 filhos, 01 nora e 01 neta. Pertencemos ao Movimento das Equipes de Nossa Senhora desde 1994, e atualmente estamos responsáveis pelo Movimento no Brasil, cujo carisma é a espiritualidade conjugal, existe desde 1938 e está presente em 70 países. Atualmente somos 137.200 membros no mundo, dos quais 45.500 estão em nosso país.

Foi-nos solicitado falar sobre “A abertura dos cônjuges à vida”, texto que consta da 3ª Parte do Instrumentum Laboris, capitulo I. Iniciamos com uma citação da Sagrada Escritura:

“Deus criou o ser humano à sua imagem. Homem e Mulher Ele os criou. E Deus abençoou-os e disse-lhes: Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!” (Gn 1, 27-28)

Deus nos criou homem e mulher, para que nos unamos numa só carne, para que nos amemos com o amor que vem dEle mesmo, para que nos construamos mutuamente através desse amor e para que geremos vida1. A nenhum casal é permitido guardar para si as graças e os frutos maravilhosos da vida matrimonial. Relembrando a missão do nosso Movimento, ajudar os casais a se santificarem, Padre Henri Caffarel, nosso fundador, afirma: “nenhum casal tem o direitode ser estéril”2. Logicamente, esterilidade não se restringe a não gerar filhos. Nós a entendemos como uma postura deliberadamente fechada ao dom criativo de Deus, que se expressa nas diversas dimensões do amor conjugal. Ao transmitir a seus descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como cônjuges e pais, cooperam de forma única na obra do Criador3.

O ato sexual é legítimo, querido e abençoado por Deus, e o prazer que dele decorre contribui para a alegria de viver e para a estruturação sadia da personalidade. É a expressão do amor, que no começo pode ser paixão, mas que deverá humanizar-se cada vez mais. Os casais que fazem amor são os que expressam com o corpo o que lhes vai ao coração. Para chegar à harmonia, é preciso saber cultivar o desejo e até mesmo um erotismo sadio. É preciso continuar apaixonados e estar atentos um ao outro4.

A maneira de administrar a vida sexual é muito importante para a humanização do ser humano. Padre Caffarel propõe um percurso fascinante: da sexualidade ao amor. O casal é o lugar onde se articulam as três funções da sexualidade: a função relação, a função prazer e a função fecundidade. O casal se constrói ao integrar de forma equilibrada essas três dimensões.

A sexualidade é vivida na relação com o próximo e com Deus. É chamada a tornar-se uma linguagem de amor, de comunhão e de vida5.

Algo se impõe: é absolutamente necessário guiar os casais para a perfeição humana e cristã da relação sexual. A sexualidade é um fator de santificação, e atualmente precisa ser salva do erotismo doente que reduz o ser humano a uma única dimensão6.

A geração de filhos é gesto sublime de amor pela doação da vida. É possibilitar a um novo ser a extasiante aventura da vida, do amor, da descoberta, do encontro e do mergulho final no coração de um Deus que é suprema realização de todo ser. O casal não é fecundo só porque gera filhos, mas porque se ama e, amando-se, abre-se à vida. Diferente dos que, por livre escolha, egoisticamente, decidem não acolher a vida7. “A tarefa fundamental do matrimônio e da família é estar a serviço da vida”8 e, por isso, “qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida”9.

Por razões justas, sem egoísmo, os esposos podem querer espaçar o nascimento dos filhos, visando uma maternidade e paternidade responsáveis10. Continência periódica e regulação da natalidade com base em auto-observação estão em acordo com os critérios objetivos da moralidade11.

Dada a seriedade do ambiente no qual nos encontramos, temos que admitir sem medo que muitos casais católicos, mesmo os que procuram viver seriamente o seu matrimônio, não se sentem obrigados a usar apenas os métodos naturais. Nas Equipes de Nossa Senhora não é diferente. Devemos acrescentar ainda que geralmente não são questionados pelos confessores. Por um lado, os casais estão abertos à vida e rejeitam o aborto, isto é fato. Por outro, não percebemos nas pregações e atendimentos espirituais a insistência na doutrina da Humanae Vitae.

O controle da natalidade através dos métodos naturais teoricamente é bom; porém, na cultura atual nos parece carente de praticidade. Casais, principalmente jovens, vivem um ritmo de vida que não lhes permite praticar esses métodos, uma vez que demandam tempo para treinamento, e tempo é produto raro no mundo em que vivemos. E o pior: por ser superficialmente explicado e, por isso mesmo, mal utilizado, o método natural ganha a fama injusta de ser inseguro e assim muitas vezes ineficiente. Portanto, mais uma vez com sinceridade admitimos que não é seguido pela maioria dos casais católicos.

Como o controle da natalidade tem se mostrado uma necessidade, os casais, na sua grande maioria, não rechaçam o uso de outros meios contraceptivos. Em geral, não os consideram como um problema moral. Devemos considerar, ainda, que as relações sexuais estão orientadas à transmissão da vida, mas também ao serviço do amor conjugal. “Não há nisso nada de surpreendente, tendo em vista as exigências da lei quanto à força do instinto sexual. Mas o que não é normal é que um grande número de casais católicos está mergulhado nesta angústia”12.

O Movimento das ENS elaborou um tema de estudo, anos atrás, intitulado “Evangelizar a Sexualidade”. Nesse documento constatamos a disparidade entre a doutrina moral e a práxis do casal. Por se tratar de um assunto importante, iniciou-se no Movimento um estudo baseado nas catequeses da Teologia do Corpo, de São João Paulo II, intitulado “A Teologia da Sexualidade”.

Santo Padre, padres sinodais, senhoras e senhores, se pelo menos os casais encontrassem luz e suporte junto ao clero já seria um grande alento! Muitas vezes os conselhos contraditórios só agravam sua confusão. Pedimos, apresse-se o magistério em dar aos padres e aos fiéis as grandes linhas de uma pedagogia pastoral que ajude a adotar e observar os princípios acordados pela Humanae Vitae13.

É necessário e urgente a prolação de uma orientação fácil e segura, que responda às exigências do mundo atual, sem ferir o essencial da moral católica que precisará ser amplamente difundida.

Terminamos reiterando nossa total e incondicional fidelidade a Jesus Cristo, através do Santo Padre e da Igreja.

Fonte: ZENIT e Canção Nova

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