Os fiéis da Igreja Católica, e não somente dela, estarão com os olhares voltados, de modo especial nas próximas duas semanas, para o Vaticano. Não só porque ali está o Papa e o coração da Igreja, mas porque os padres sinodais, cerca de 250, estarão reunidos para tratar do tema da família. O tema é de tanta atualidade e dimensão que serão dois anos de trabalhos. Sim, porque o encontro que tem início neste domingo com a missa presidida pelo Papa é o Sínodo Extraordinário, convocado pelo próprio Santo Padre; já no próximo ano teremos o Sínodo Ordinário, também dedicado ao mesmo tema. Na conclusão dos trabalhos deste primeiro encontro de duas semanas, a divulgação de uma mensagem, de um documento. No próximo ano na conclusão do Sínodo Ordinário teremos, se assim o Papa desejar, a divulgação da Exortação pós-Sinodal, ou seja, um documento contendo a reflexão final do Santo Padre baseado nas propostas e reflexões feitas durante o trabalho dos dois Sínodos.
Sabemos muito bem, quanta atenção o Papa Francisco dá à questão da família, e quanto deseja que este tema retorne a ser o centro da atenção da Pastoral da Igreja. Francisco, depois de quase 30 anos, convoca uma Assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos para debater a situação da família chamando a atenção para a crise que a atinge, seja cultural, social ou espiritual.
Um trabalho longo que teve início com a distribuição de um questionário às Conferências Episcopais de todo o mundo e consequentemente a todos os bispos, para que interpelassem os fiéis sobre esse tema de grande importância. Nasce então o Instrumento de Trabalho sobre o qual se debruçarão os padres sinodais nos próximos dias.
Os temas são variados; do divórcio à possibilidade dos divorciados recasados acederem à Comunhão; a simplificação dos processos canônicos de verificação de nulidade; os desafios da “contracepção” e da falta de “abertura à vida” em várias famílias; a questão de pessoas que vivem em uniões do mesmo sexo; a violência doméstica, as situações de crise, precariedade ou desemprego; os “desafios pastorais sobre a família”. Estes são só alguns dos temas que os padres sinodais vão refletir.
Certamente não faltam as polêmicas que já nasceram devido à grande expectativa que os dois Sínodos trazem, principalmente no que diz respeito à participação nos sacramentos para os casais de segunda união. Há expectativas de respostas claras e de abertura para este tema. Junto ao desejo expresso por muitos de mudanças, vem o parecer e a consideração daqueles que não vêem motivos para mudanças neste âmbito; outros já afirmaram que seria o caso de estudar caso por caso.
O que certamente podemos afirmar é que nunca como hoje o tema da família, e tudo aquilo que a envolve, não é somente uma discussão de “Igreja”, como muitos dizem, mas é uma discussão que envolve todos, que vai além do simples fato religioso, diz respeito aos valores sobre os quais as mesmas sociedades foram fundadas. Os meios de comunicação, os pró e os contra usam programas de aprofundamento para tentar, ao seu modo, explicar o que está em jogo. Não é somente discutir se se deve ou não dar a comunhão aos recasados – eles também são filhos de Deus e membros da Igreja – mas é refletir o que significa hoje o “ser família”, ser um casal que tem filhos, que vive em uma comunidade, que tem problemas, que tem desafios a enfrentar. Deve-se refletir sobre as novas realidades que estão presentes hoje na nossa vida cotidiana, como casais de fato, casais do mesmo sexo, e apontar caminhos que possam, acima de tudo, preservar o grande valor desse sacramento, mas também olhar com magnanimidade para o drama que muitas dessas pessoas, que hoje se encontram “fora”, padecem.
Neste Sínodo Ordinário, a primeira etapa, o objetivo principal é precisamente identificar linhas de ação para pastoral da família.
Falando à Rádio Vaticano, Dom Vincenzo Paglia, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, disse ser um fato, que muitas famílias se separaram, estão feridas, e que estão lutando para se recompor. Percebe-se então que mais do que um de debate de salão sobre essas questões teóricas, seria necessário dar início a uma espécie de luta corpo a corpo com as famílias. “Portanto, sair das salas, neste caso, do Pontifício Conselho realizar um caminho ideal para se confrontar com todas as problemáticas das famílias”: também o Sínodo deve exortar todas as realidades eclesiais do mundo a fazerem o mesmo. Mudou a realidade das famílias, mudou a cultura que as circunda e é essencial que a Igreja, seguindo a inspiração do Papa Francisco, realmente saia e entre em todas as casas e em todas as situações para discutir e dar alguma ajuda e resposta às famílias de hoje.
O Papa Francisco tocou o coração de todos os casais quando sintetizou o “caminhar juntos” com as três palavras: “Pedir licença” para não ser invasivo na vida do cônjuge. “Obrigado”, agradecer o que o outro fez por mim, a beleza de dizer “obrigado”. E a outra, “desculpa”, que às vezes é mais difícil, mas é necessário dizê-la.
É sobre esse caminho, muitas vezes tão difícil, que os padres sinodais irão refletir nos próximos dias, e sobre os quais a atenção de fiéis e não tão fiéis se dirigirá. É a forma com que o Papa pretende fazer um caminho de reflexão na unidade da Igreja, promovendo a participação responsável do episcopado de todas as partes do mundo.
O Papa Francisco pediu a todos que rezem pelo bom êxito dos trabalhos, e fazemos eco às suas palavras, recordando sempre que o matrimônio está no coração do desígnio de Deus, é a aliança com seu povo, é uma comunhão. Quando um homem e uma mulher se unem em matrimônio, Deus “se reflete neles”.
Silvonei José Protz
Colunista do Blog Evangelizando. (+ artigos)
Diocese de Roma (Itália). Doutor em comunicação e professor universitário em Roma. Jornalista da Rádio Vaticano: "a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o mundo".
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