1 de abril de 2014

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro

A Bíblia diz que o mais importante é buscar “em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33).

É lamentável saber que o valor que temos para muitas pessoas se resume, basicamente, em dois aspectos análogos: o quanto de dinheiro eu tenho; e mesmo não tendo dinheiro, de que maneira eu posso contribuir para que o outro tenha mais dinheiro. Portanto, tudo gira em torno do dinheiro.

Jesus mesmo disse que muitos prestam algum tipo de favor a outros para receber o mesmo de volta (cf. Lc 6,34). Agir assim é agir por interesse. Ensinou-nos Jesus: “fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca” (Lc 6,35). É isso que vemos por aí? De forma alguma, ao contrário, as relações são marcadas pelo interesse, pela perspectiva do quanto se pode lucrar, seja monetariamente, no status, na fama, no poder etc.; do quanto se pode beneficiar com a sombra, “amizade” do outro.

É assustador como o dinheiro tem de corromper as pessoas. Muitos fazem loucuras por ele. Amizades são desfeitas, casamento são feitos, pessoas cometem crimes, vendem o próprio corpo, matam, roubam, falsificam, adulteram, enganam, simulam, acusam faltamente enfim.

O dinheiro corrói os relacionamentos; como citamos, estabelece casamentos arranjados, por puro interesse. Casa-se com o bem-sucedido para se ter uma vida de luxo e se não for de luxo ao menos garantir o básico para não viver na pindaíba. E o amor, o amor sincero, verdadeiro? “Amor pra que, ele não enche barriga”, dizem essas vozes. Jogam por terra o sacramento do matrimônio sagrado aos olhos de Deus. Na verdade, quando chegam a se casarem na Igreja.

Bem antes do casamento, quando os dois ainda estão se conhecendo, ela pergunta o que ele faz, onde trabalha. Dependendo da resposta o interesse aumenta eu cessa. Ele é maravilho, educado, inteligente, e marcam para sair. – “Tô sem carro, nos encontramos no shopping, pode ser?”. Já era! – “O que, andar de ônibus nesse calor”, pensa ela. A coisa não decola já ali mesmo. Mas vem cá, ela está a fim do cara ou do carro? – “Tem tanto cara aí dando sopa e com um carrinho, por que vou sair com este que não tem”, pensa ela. Essa não te serve, e não serve para ninguém. O que move a relação é o interesse. Você é só um pretexto.

Nem precisa falar que no mundo das celebridades está repleto de casamentos por conveniências e tendo o dinheiro como motivo. Mulheres com desejo de fama, sucesso, status e bem-estar, casam-se com jogadores de futebol que estão em alta, sertanejos, empresários bem sucedidos, cantores da hora, artistas do momento etc. Tudo em nome da fama, do poder, do status, do dinheiro.

Eu te dou mais ou menos atenção dependendo do quanto você tem, do quanto ganha. Se você sai de um carro de luxo – ou um mais potente – e entra num restaurante, o seu tratamento será diferenciado. Isso já sabemos.

No Brasil, o preconceito não é tanto racial, mas muito mais sócio-econômico. Um gari negro, é negro, um trabalhador qualquer negro, é negro. São olhados do alto a baixo. Já um ministro do supremo, um médico negro, ninguém lembra da cor deles, não faz diferença nessa caso.

Aquela pessoa é seu amiga até o momento que me você não lhe pede dinheiro emprestado. Se pedir poderá ouvir “amigos, amigos, negócios à parte”. Mas o amigo de verdade não é para nos estender a mão nos momentos difíceis?

Pessoas sem a menor noção da vida, muitas vezes se apresentam apenas pelo sobrenome, para dizer “você conhece a família que eu venho, não é?”.

Diz-se que para se conhecer um homem basta dá-lhe poder, dinheiro e mulher – esse último não é objeto de nossa análise neste momento.

Por dinheiro, filhos matam os pais. O desejo de ter dinheiro rápido e fácil levam pessoas a cometerem infinidades de crimes e absurdos.

Quem tem dinheiro tem poder. Quanto mais se tem, mais se quer ter. Vivemos num mundo onde o ter é mais valorizado do que o ser.

Ser bom, íntegro, honesto, trabalhador, não vai fazer com que você conquiste aquela gata (interesseira, claro). Ela sairá com aquele outro que não lhe apetece os olhos, mas para andar de Hilux, Corolla vale tudo.

Por causa de uma bacia de petróleo nações entram em guerra e alegam motivos diversos, menos o que está por trás: o dinheiro.

Para o Papa Gregório o homem avarento era um assassino. E dizia o Pontífice: “Aquele que guarda para seu próprio uso o que iria sustentar o pobre, está matando todos aqueles que poderiam viver para a sua abundância”.

A avareza é um dos sete pecados capitais. É o apego excessivo e descontrolado pelos bens materiais e pelo dinheiro, priorizando-os e deixando Deus em segundo plano. É considerado o pecado mais tolo por se firmar em possibilidades.

O ano de 2012 foi o ano em que o funk da ostentação, que fala de dinheiro, carro importado, roupas de grife, jóias, carrões etc. ficou no topo do hit parade.

Uma música que falava da aquisição de um carro importado comprado com a herança do “véio”, emplacou uma dupla sertaneja e foi cantada pelo Brasil inteiro. A letra diz que quando ele tinha uma CG não era notado. Depois, ao comprar um Camaro ele passou “a escolher, porque tá sobrando mulher”. Que mulheres são essas? As interesseiras, que não escolhem um homem pelo que ele é, mas pelo que tem, onde mora, qual carro possui.

Uma das coisas que me trazem indignação é a má distribuição de renda, que consiste na divisão do capital (riqueza) de maneira desigual, poucos concentram a maioria da riqueza, enquanto muitos permanecem em situação de pobreza. De acordo com o site G1.com um estudo elaborado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Urbanos, o Brasil tem a quarta pior distribuição de renda entre os países da América Latina e do Caribe. Só Guatemala, Honduras e Colômbia são piores.

Jesus foi o mestre em todas as áreas da vida humana. Na economia, Jesus nos deu uma lição para amenizar o problema da pobreza no mundo, ao nos ensinar: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo” (Lc 3,11).

Uma frase clássica diz que dinheiro não compra felicidade. Uns dizem que não compra, mas manda buscar.

Vamos trabalhar com o seguinte conceito de felicidade: é feliz não aquele que tem o que quer, mas aquele que se contenta com o que tem.

Se ser feliz é amar a Deus e ao próximo e levar uma vida digna, independente do quanto se tem financeiramente (e aí está a verdadeira felicidade, a paz de espírito; sentir o amor de Deus e a partir daí sim, buscar as outras coisas), então nesse sentido o dinheiro não pode trazer felicidade. Pode dar um bem-estar, um conforto, mas não pode comprar o amor do outro. Porque o amor é dado livremente. O dinheiro pode comprar a companhia de uma loira de 1,80 metros de altura de olhos azuis, corpo sarado. Mas esta relação será marcada pelo interesse, pela compra, como se compra um produto na prateleira do supermercado.

A Bíblia fala da incompatibilidade entre ricos e pobres. Lê-se em Eclesiástico: “Que ligação pode ter um rico com um pobre [...] o pobre é causa de horror ao rico” (Eclo 13,22;24). Está escrito no versículo 25: “Um rico abalado é apoiado pelos seus amigos. O pobre que tropeça é ainda empurrado pelos seus companheiros”. Nos versículos 28 e 29 se lê isto: “Se fala o rico, todos se calam, e glorificam suas palavras até às nuvens; se fala um pobre, dizem: ‘Que é este homem?’”.

É importante ressaltar que a palavra de Deus não condena a riqueza, mas sim o apego a ela. Diz Eclesiástico 13,30: “A riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada”. Portanto, a riqueza faz bem para quem sabe usar o dinheiro e não tem nela a sua segurança, mas sim no Senhor.

A Bíblia não condena o dinheiro em si mesmo, mas o seu apego, o seu mal uso. Se não fosse assim, Jesus não teria chamado um tesoureiro, Mateus, para ser um dos doze apóstolos.

A Palavra de Deus garante que melhor do que a riqueza é o temor a Deus (Pr 15,16), a honestidade (Pr 16,8), a serenidade (Sl 36,16), a saúde (Eclo 30,14-15).

O dinheiro pode fazer a pessoa esquecer-se de Deus: “Aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam” (Mt 13,22). “Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará a outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

O desejo de enriquecer é fonte de muitas tentações: “Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio” (1Tm 6,9-10). Mas deve-se tomar cuidado com a leitura cega e fora de contexto da Palavra de Deus. Não se pode usar esse versículo para condenar a prosperidade material. O que não é de Deus é ter como meta qualquer objetivo colocando Ele, o Senhor, em segundo plano, enquanto que em primeiro lugar deve estar Deus, em todas as coisas. Este é o primeiro mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22,37-38).

A palavra de Deus não condena a riqueza em si mesma, adquirida pelo suor, pelo trabalho honesto. Quanto mais você tem, mais você também pode ajudar. O que é condenável, é a ganância, a avareza, a ostentação, o exibicionismo.

A Bíblia quer nos mostrar que o mais importante é buscar o Reino de Deus e as demais coisas nos serão dadas por acréscimo (cf. Mt 6,33).

Viva, trabalhe, prospere, tendo em mente que tudo é dom de Deus e nossa meta é o seu Reino e não as coisas materiais.

Sendo desapegado você viverá bem com a riqueza e sendo humilde de coração você se contentará com o que tem.

Por Thiago Zanetti
Colunista do Blog Evangelizando. (+ artigos)
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