É uma alegria para nós do Blog Evangelizando ter conosco o Pe. José Eduardo, sacerdote da Diocese de Osasco disponibilizando alguns de seus textos.
A teologia islâmica, cindindo a relação
analógica entre a criação e Deus, confinou o Criador numa liberdade puramente
voluntarista, desobrigada da própria lógica do seu Ser, que pulsa como vontade
eterna e autônoma; e a criação, governada por Sua lei, ante a qual cabe apenas
a submissão.
A razão, incapaz de chegar ao Ser divino pela via analógica,
apenas se relaciona com Ele por uma fé intuitiva, anti-intelectual, obediente.
Quando se infiltrou na filosofia ocidental, mediante o nominalismo (esta teologia mesma era uma elaboração
nominalista), provocou a cisão entre fé e razão que originou a sensação de que
nos relacionamos com Deus por "sola fide" e de que devemos aplicar a
razão, pervertida pelo pecado e incapaz de conhecer a realidade, ontológica e
moralmente, apenas de modo instrumental. Nascia a filosofia moderna,
racionalista e fideísta, que fazia a razão fechar-se em si mesma e
auto-limitar-se, e punha a fé como sentimento intuitivo, aos modos pietistas.
Na perspectiva moral, o legalismo
mantinha-se como única ferramenta idônea para orientar o homem ao seu fim. Não
o podendo entender intelectualmente, cabia-lhe apenas a atitude obediente de
quem escuta o preceito, o que executa e exime-se do castigo.
Com uma razão desguarnecida
de capacidade analógica e desacostumada à abstração, a ideia de Deus se foi
esvaziando, deixando apenas o conceito genérico de lei moral, agora
retrabalhado em termos secularistas. O conceito de lei natural se foi
desteologizando, chegando a tornar-se apenas um uma lei genérica que o homem se
dá, quase que se pondo na posição extra-temporal de um deus que legisla sobre
si dispondo sobre o cosmos, mas ainda em termos minimamente racionais.
Erodindo-se ainda mais a
razão, esta autodefinição moral se desracionalizou, gerando este conceito de
liberdade autônoma que existe em nossos dias. De fato, o homem de hoje pensa
que "agir livremente" é "fazer o que se quer",
incondicionado por qualquer motivo lógico, apenas movido por uma pulsão
caótica, conteúdo mesmo da autenticidade humana.
Eis aí uma fiel imagem e
semelhança de Alá. Aquele Deus onipotente, que se auto-define ilógica e,
portanto, incompreensivelmente, foi se reproduzindo gradualmente na filosofia
moral moderna, produzindo um reflexo de si.
Não será este o motivo pelo
qual o mundo secularizado, no qual o indivíduo se enxerga como portador de uma
liberdade intelectualmente autônoma, acaba acolhendo tão facilmente o Islã,
pela porta dos fundos? Não será que os filósofos islâmicos há séculos não sabiam
que seria este o modo mais profundo de se obter uma vitória doutrinal sobre o
ocidente? Seria este um duelo multissecular entre intelectualismo e
voluntarismo, não percebido pelo cristianismo e, por isso, por ele mesmo
patrocinado?
Curioso é o fato de que, no
final das contas, a filosofia islâmica criou todos os problemas para os quais
ela mesma parece ser a única resposta.
Fonte: https://www.facebook.com/jose.eduardo.7792/posts/988796494465699
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