At 2,14.22-33
Sl 15
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35
No Tempo Pascal a Igreja vive, celebra e testemunha sua certeza, aquela convicção que a faz existir e sem a qual ela não teria sentido neste mundo: “Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio Dele entre vós. Deus, em Seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue nas mãos dos ímpios e vós O matastes pregando numa cruz... Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. Exaltado pela Direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo prometido e O derramou...” Este é o núcleo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, a inspiração para a nossa vida e nossa ação, isto é, para nossas atitudes concretas, nossa vida moral; esta é a certeza que nos faz enfrentar as provações da vida e o medo da morte! Sim, Deus, o Pai, ressuscitou Jesus dentre os mortos e fê-Lo Senhor!
Na Liturgia da Palavra deste Domingo, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho de hoje! O que há aí? Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: nele, os discípulos conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido com Jesus. Mas, os acontecimentos da existência, lidos somente à nossa luz, segundo a nossa razão e os nossos critérios, são opacos, são tantas e tantas vezes, sem sentido... Por isso, no coração e no rosto daqueles dois havia tristeza e escuro; eles estavam cegos e tristes... Dominava-os o desânimo e a incerteza: esperaram tanto e, agora, só restava um túmulo vazio... Mas, à luz do Ressuscitado – quando O experimentamos vivo entre nós – tudo muda, absolutamente. Primeiro o coração arde no nosso peito. Arde com a alegria e o calor de quem vê um sentido – e um sentido de amor e de vida, ainda que sempre tão misterioso – para os acontecimentos da existência, mesmo os mais sombrios: “Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na glória?” Que palavras impressionantes! São as mesmas dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura: “Deus em Seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue...” Aqui, compreendamos bem: só na fé se pode penetrar o mistério e ultrapassar o absurdo! Então, com Jesus, na Sua luz, os olhos nossos se abrem e reconhecemos o Ressuscitado, experimentamo-Lo vivo, próximo, como Senhor, que dá orientação, sustento e sentido à nossa vida! Sentimos, assim, a necessidade de conviver e compartilhar com outros que fizeram a mesma experiência, todos reunidos em torno daqueles que o Senhor constituiu como primeiras testemunhas Suas – os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos em comunhão com o Sucessor de Simão, a quem o Senhor apareceu em primeiro lugar dentre os Apóstolos. É assim que somos cristãos; é assim que somos Igreja!
Esta é, portanto, a certeza dos cristãos, a nossa certeza! Hoje somos nós as testemunhas! Hoje somos nós quem devemos pedir: “Mane nobiscum, Domine!” – “Fica conosco, Senhor!” Somente seremos cristãos de verdade se ficarmos com o Senhor que permanece conosco, se O encontrarmos sempre na Palavra e no Pão eucarístico. Nunca esqueçamos: os discípulos sentiram o coração arder ao escutá-Lo na Escritura e O reconheceram ao partir o Pão! Esta é a experiência dos cristãos de todos os tempos. São João Paulo II, precisamente na sua Carta Apostólica Mane nobiscum Domine afirmava essa necessidade absoluta de Cristo, necessidade de voltar sempre a Ele: “Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história da humanidade. Tudo é recapitulado Nele. Cristo é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude de suas aspirações. Nele, Verbo feito carne, revelou-se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. Nele, o homem encontra a redenção e a plenitude!” (n. 6).
O mundo atual – e o mundo de sempre – deseja apontar outros caminhos de realização para o homem, outras possibilidades de vida... Os cristãos não se iludem! Sabemos onde está a nossa vida, sabemos onde encontrar o caminho e a verdade de nossa existência: em Cristo sempre presente na Palavra e na Eucaristia experimentadas na vida da Igreja! Repito: este é o centro da experiência cristã; e precisamente daqui brotam as exigências de coerência de nossa vida: “Fostes resgatados da vida fútil herdade de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro sem mancha e sem defeito. Antes da criação do mundo Ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, Ele apareceu por amor de vós!” Eis, que mistério! Antes do início do mundo o Pai nos tinha preparado este Cordeiro imolado, para que Nele encontrássemos a vida e a paz! Por Ele alcançamos a fé em Deus; por Ele, nossa vida ganhou um novo sentido; por Ele, não mais pensamos, vivemos e agimos como o mundo das trevas! E porque Deus O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a glória, a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, estão firmadas na Rocha! “Vivei, pois, respeitando a Deus durante o tempo da vossa migração neste mundo!” Vivamos para Deus e manifestemos isso pelo nosso modo de pensar, falar, agir e viver!
Irmãos! Irmãs! Não tenhais medo de colocar em Cristo toda a vossa vida e toda a vossa esperança! É Ele Quem nos fala agora, na Palavra, e agora mesmo, para que nossos olhos se abram e o reconheçamos, Ele mesmo nos partirá o Pão na divina Liturgia dominical. A Ele a glória pelos séculos! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Colunista do Blog Evangelizando (+ artigos)
Bispo da Diocese de Palmares
Blog: Visão Cristã
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