Quanto à sacralidade da Liturgia, ela se encontra em crise porque primeiramente o conceito do que é o cristianismo e o que é a Igreja se encontram em crise - e isto é muito grave!
Pensa-se que a Igreja existe para difundir e defender os valores do Reino... E por valores do Reino se tomam muitos dos valores ideológicos da esquerda e de certas filosofias do progresso, todas elas herdeiras do pensamento de Joaquim di Fiori, famoso abade do séc. XII, condenado pelo Concílio Lateranense IV.
Ora, não é para isto que a Igreja existe: para anunciar valores!
A Igreja existe para anunciar uma Pessoa: Jesus, para ser o espaço no qual Jesus fala Sua palavra, age salvificamente pelos sacramentos e forma sempre de novo Seus discípulos como a Sua comunidade, que, vivendo Sua Vida nova (Vida de ressurreição), torna-se espaço no qual Deus, o Pai, reina de verdade.
Assim, a Igreja é germe e sinal do Reino do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja é início do Céu, quando o Reino se manifestará plenamente. Esta é a convicção constante da fé da Igreja, tão belamente apresentada o Concílio do Vaticano II.
Na liturgia é Cristo Quem age, é Cristo Quem doa sempre e novamente o Seu Espírito, que é a própria Vida eterna, Vida divina. Na Liturgia, portanto, a salvação acontece sempre no aqui e no agora da vida humana.
A Liturgia é primeiramente ação de Cristo, que num só Espírito, une a Si a Sua Igreja no sacrifício de louvor ao Pai. Quando se tem essa consciência, compreende-se que a Liturgia é um fazer sagrado, isto é, pertence diretamente ao mundo de Deus e exprime o Seu inefável mistério.
Sem esta percepção, a Liturgia torna-se a festa da “comunidade celebrante” que celebra suas ideias, suas lutas e suas conquistas... Que lástima, que erro, que perda do foco, que traição à fé católica, à consciência cristã! Cristo sai do centro, Deus, o Pai, desaparece e a dimensão sagrada perde totalmente sua razão de ser!
Agora é preciso também compreender um outro aspecto importante: a sacralidade da Liturgia não depende do aparato exterior que lhe damos, mas da consciência profunda de se estar no âmbito de Deus.
A sacralidade vem de Deus, não de ritos ou alfaias! Os ritos e alfaias podem e devem exprimir a sacralidade, mas não a geram nem a garantem. Rito por rito, alfaia por alfaia nos levariam a um desfile de fixação estética de sentido mais que duvidoso!
É preciso estar atentos para o sentido teológico da Liturgia, para uma espiritualidade litúrgica centrada em Cristo, de consciência de ser Igreja Corpo do Senhor e de profundo compromisso com o Evangelho na própria vida e na vida do mundo, com tudo o que isto possa significar e implicar!
Falar em Liturgia não pode nos deter em simples cerimônias, em detalhes mínimos de pequenas observâncias - ainda que elas tenham também o seu valor! O cerne, a nobreza, a importância da Liturgia reside no fato de ser celebração do Mistério pascal do Cristo nosso Deus, na qual recebemos a salvação que o Senhor nos trouxe, pois que ali, Sua Páscoa torna-se perenemente presente e Ele mesmo, como está no Céu, coloca-Se no meio, no centro, no coração da Sua Igreja, como poder santificador, perdoante e salvífico para dar Vida divina aos Seus discípulos e, por eles, a Vida ao mundo!
Dom Henrique Soares
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