26 de outubro de 2013

DIREITO DE EXISTIR

DIREITO DE EXISTIR
Certa vez conversando com Dom Moacyr Grechi, Arcebispo emérito de Porto Velho, ele me disse que aquela terra onde vivia, a terra da Amazônia tem um rosto próprio, seja do ponto de vista geográfico, seja do ponto de vista humano. Ele fez várias considerações sobre essa parte do Brasil, que para a maioria dos brasileiros é totalmente desconhecida; ali está a maior concentração de povos indígenas do país, os chamados, “povos da floresta”; temos distâncias enormes; a migração de vários Estados transformou a região; antes era uma região prevalentemente de pessoas nordestinas ou pessoas com características indígenas. Hoje a maioria da população é de origem italiana, alemã e polonesa, com sua vivência eclesial também marcada pela experiência do Sul. Outro aspecto, mais ligado ao sociológico, econômico e político: em 1970 houve a invasão, por parte dos grandes proprietários, da região. Milhões de hectares ficaram concentrados nas mãos de poucos e os camponeses foram obrigados a buscar terras distantes. Para finalizar o quadro de Dom Moacyr, no âmbio da Igreja, um clero na sua maioria religioso e estrangeiro, e uma história eclesial recente. Percebe-se uma Igreja que nasce agora, com tudo aquilo que significa de esperança e beleza, mas também de fragilidade.

Nos próximos dias será realizado em Manaus, entre os dias 28 e 31 de outubro o 1º Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, promovido pela Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, cujo Presidente é Cardeal Dom Cláudio Hummes. O objetivo é discutir a realidade político-social, econômica, cultural e religiosa da Amazônia Legal, bem como a contribuição da Igreja Católica para a promoção e defesa da vida dos habitantes dessa Região e de sua rica biodiversidade.

A história da Igreja na Amazônia foi escrita, sobretudo, por missionários estrangeiros, que há 5 séculos estão ali com os povos daquela região.  Os missionários, diversamente de turistas ou benfeitores de passagem, ficaram com eles; com infinita paciência, ajudaram-nos no difícil processo de se manterem senhores de sua identidade, mas também a se abrirem ao mundo diverso que vinha ao seu encontro.
A Amazônia sempre esteve no coração da Igreja e dos Papas: basta recordar o carinho do Beato João Paulo II por aquela terra, e a demonstração de afeto de Bento XVI, quando da sua visita ao Brasil em 2007, fez uma doação em dinheiro para ajudar a missão Amazônia. Já o Papa Francisco durante o encontro com os bispos brasileiros no Rio de Janeiro, no dia 27 de julho último, durante a JMJ pediu que a Igreja Católica reforce a sua ação missionária à imagem do que faz na Amazônia, falando desta região como “teste decisivo” para a Igreja e a sociedade brasileiras.

“A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam; ela está presente com missionários, congregações religiosas, e ali continua ainda presente e determinante no futuro daquela área”, disse Francisco.

No desafio pastoral que representa a Amazônia,  - disse então o Papa Francisco - não posso deixar de agradecer o que a Igreja no Brasil está fazendo. A Comissão Episcopal para a Amazônia, criada em 1997, já deu muitos frutos e tantas dioceses responderam pronta e generosamente ao pedido de solidariedade, enviando missionários, leigos e sacerdotes.

A criação dessa Comissão foi uma resposta aos apelos históricos do povo de Deus de rosto indígena, ribeirinho e caboclo. Ela representa o amadurecimento de iniciativas missionárias realizadas, ao longo dos anos, por um bom número de dioceses do Brasil através do programa Igrejas-Irmãs. Esta importante iniciativa surgiu em 1972, após uma visita à Amazônia de D. Aloísio Lorscheider, então presidente da CNBB.

“A evangelização missionária não pode ser exclusivamente de institutos e organismos, mas tem de envolver toda a Igreja, afirma Dom Erwin Kraütler, Bispo de Xingu. O sujeito da missão é a própria Igreja”...
A presença da Igreja, de seus bispos, sacerdotes, missionários e leigos é a certeza de que há esperança de futuro, há esperança de uma vida melhor. A Igreja tem um papel fundamental na Amazônia. O Encontro dos próximos dias é a confirmação disso, da sua atenção por essa terra e pelo povo que ali vive.
Já o Papa João Paulo II dizia: “Uma Igreja fechada sobre si mesma, sem abertura missionária, é Igreja incompleta ou está doente”. Esse é o chamado para olharmos para uma Igreja viva e atuante que caminha ao lado do Povo de Deus.

DIREITO DE EXISTIR
Berço de grandes contradições, a Amazônia, vastidão enorme de terra ao lado de um grande número de pessoas deserdadas da terra, é uma realidade repleta de desafios para a Igreja e para a sociedade brasileira. Esse povo, marcado pela pobreza, pelo esquecimento político e institucional, pela exploração, grita pedindo, não socorro, mas direito de existir, de ser respeitado, de viver uma vida digna, de ser conhecido.



DIREITO DE EXISTIR
Silvonei José Protz
Colunista do Blog Evangelizando
Diocese de Roma (Itália). Doutor em comunicação e professor universitário em Roma. Jornalista da Rádio Vaticano: "a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o mundo".



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