Quero analisar com vocês um sentimento que mais fortemente percebe-se na contemporaneidade, nesta pós-modernidade. Estou datando porque está sendo mais evidente agora do que há 5 (sim, apenas cinco mesmo),10,15,20 anos atrás. Uma grande intolerância, um grande ressentimento e a imputação de um peso maior do que devido ao erros dos irmãos; e, muitas vezes, não há nenhum erro, mas um pequeno deslize, um contratempo, um mal-entendido, uma pequena ranhura. Mas esses cristão-julgadores, inquisidores, se enchem de autoridade e dizem “você não me serve mais”, “você falhou comigo”, “isto eu não perdôo, até perdôo, mas você lá e eu cá” etc. Esses são cristãos de papel, de louça, de açúcar, de cristal dos mais finos, de vidro. Por quaisquer ondulações quebram e se desfazem. Diga-me, que cristão é esse que por qualquer coisinha fica de mal, ofendido, emburrado, ressentido, cheio de não me toques? É um cristão que precisa amadurecer na fé e humanamente. Esses são seus amigos até o momento em que você não os contrariam. Muitos não entendem que algumas lutas são por questões ideológicas, discussões sadias por posicionamentos, pontos de vista, mas que não se mistura com a pessoa. Você pode ter um posicionamento diametralmente oposto ao posicionamento do irmão e caminharem juntos.
Muitos católicos sem maturidade, sem musculatura espiritual, possuem telhados de vidro. Por qualquer grãozinho quebram. Um ditado que cai muito bem aqui é: fazem tempestade num copo d’água. Criam uma quizumba por causa de coisas pequenas. E isso tem a ver com a incapacidade de perdoar, de refazer as relações. Manter uma amizade, uma relação amorosa quando tudo vai tranquilo, às mil maravilhas, a maré mansa é fácil. Difícil é superar as tribulações as adversidades os embates, e seguir caminhando junto. Não estou falando de pessoas que ferem, oprimem, machucam. Estou tratando de situações pequenas, que podem ser resolvidas num diálogo, mas que uma das partes fecha o coração e quer te deletar de sua convivência.
A sociedade está desta forma. Está havendo um descarte das pessoas. Como se troca de produto, de celular, de roupa de forma simples e fácil, as pessoas estão fazendo esta troca ou descarte com o ser humano. Mas eles não são objetos, não são seres inanimados. Eles possuem alma, tem uma história de vida, seja ela qual for e, em primeiro lugar, são filhos e filhas de Deus, amados de Deus, são queridos aos olhos de Deus; e quem somos nós para descartar, desfazer, desmerecer os filhos de Deus.
Dá para se medir o quanto um cristão está envolvido com Cristo, seguindo os seus ensinamentos, tanto mais por sua capacidade de perdoar, de ser misericordioso do que em não errar; a Palavra diz que é preciso resistir até o sangue para não pecar (cf. Hb 12,4), desta forma também se mede como um cristão autêntico. Mas a capacidade de passar a borracha por cima das falhas, das pequenas coisas é uma atitude no mínimo sensata, coerente; é algo nobre.
Jesus nos disse: “… a medida que usarem, também será usada para medir vocês” (Mt 7,2). Analise como você está medindo as atitudes das pessoas. Será que a sua exigência não está sendo muito alta? Aquele que pode exigir algo de nós, e mesmo assim não exige, mas com amor apenas exorta e nos deixam livres para fazemos nossas escolhas, é Jesus Cristo, que é Deus, infalível, puro, santo.
“Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não percebes a trave que está no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave que está no teu olho e, então enxergarás bem tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,42).
Retome suas relações a partir de onde aconteceram os ruídos; não descarte, ignore, elimine, não ponha de escanteio o seu irmão em Cristo por questões frívolas. Discorde, perdoe, caminhe, se junte. Daí você diz “a nossa relação não será mais a mesma”. Como não? Por uma banalidade? Quanto rigorismo! “Posso fazer outras amizades, eu não preciso dele(a) para nada mesmo”, que fala terrível. Não precisa do dinheiro? Ele(a) não é o seu empregador(a)? Ora, precisamos das pessoas não só pragmaticamente, daqueles de que dependemos para a sobrevivência; mas precisamos cultivar relações, construir amizades, bons relacionamentos com o maior número de pessoas. Não estou dizendo que é possível, na totalidade, ser amigo de todos, não é isso; quero dizer que Cristo estava aberto a todos, indistintamente. Ele não criou panelinhas. Daí você questiona, mas Jesus teve os seus preferidos Pedro, Tiago e João. Não era a panelinha de Jesus? Não. Foram os três que mais se abriram ao amor de Jesus – por decisão deles próprios – e buscaram uma intimidade maior com Ele. Como você tem seus melhores amigos, os que estão com você faça chuva ou faça sol, Jesus pôde contar contar com esses três apóstolos que escancararam seus corações, foram obediência a Jesus e comprometidos com a missão.
Veja, no entanto, que Cristo se fazia um com todos. E todos eram todos os apóstolos, discípulos e toda a humanidade. Vamos aglutinar pessoas ao nosso redor; dentro das nossas limitações, conquistar mais pessoas. Não julgue, não descarte. O ser humano não é uma peça substituível, mas imagem e semelhança de Deus.
Por Thiago Zanetti
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