9 de fevereiro de 2014

O VENENO DA INVEJA

O VENENO DA INVEJA
"Há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja."

(Ésquilo)

Não posso garantir que a frase acima é do autor em questão. Mas uma coisa sei, ela carrega consigo uma verdade. Muitos se alegram com as dores do outro. Contraditório? Não. Quando alguém não consegue uma vitória que havia buscado, há uma solidariedade por vezes camuflada. Nem todos se alegram, mas é verdade também que nem todos se compadecem. É mais fácil ser solidário na dor que alegrar-se com as conquistas dos amigos. Ver a felicidade alheia causa sintomas que roubam a paz que falta no olhar de quem vem o sorriso da vitória.

Um sorriso que não nasce dos nossos próprios lábios sempre é mais difícil de ser digerido. Bom mesmo é sorrir com nossas conquistas e ver o olhar do outro querendo consumir em prestações a nossa felicidade. Triste realidade de quem vive na dependência do consumismo alheio. Mais triste ainda é ver a inveja destruir amizades.

Há diamantes querendo ser topázios, no entanto não compreenderam que o rubi nunca será uma esmeralda. Cada um é um no projeto singular da existência humana. Se Deus nos fez diamantes ele irá ao longo da vida nos lapidar para que sejamos um diamante mais bonito, mas nunca deixaremos de ser um diamante e nos tornaremos um topázio. É preciso aceitar as nossas belezas e deixar que o outro seja tão belo quanto ele foi criado. Este processo leva tempo e requer maturidade e confiança na graça de Deus que nos fez únicos para sermos luz no mundo.

A inveja talvez tenha sua raiz na incapacidade que uma pessoa carrega em si de fazer a diferença a partir de suas próprias capacidades. Quando o jardim do outro parece mais bonito do que o nosso próprio jardim, deixamos o cuidado do nosso tempo ao descuido e passamos a vida a contemplar as flores que não nos pertencem e deixamos as nossas morrerem secas pela inveja que não nos permite cuidar de nossa própria vida.

A inveja deixa sim os olhos grandes: de incapacidades que poderiam ter se transformado em lindos jardins. Não é o elogio que faz o outro feliz, mas sim a capacidade que temos de cuidar de nossas próprias vidas e deixar que o outro seguir seus próprios caminhos. Quem se preocupa demais com a vida alheia é porque já não tem mais tempo de cuidar de suas próprias demandas existências. Transformou sua vida no mito de narciso, mas ao invés de contemplar sua própria face enxerga sempre no lago de seus pensamentos o rosto da felicidade alheia. Perdeu seus olhos em um mundo que nunca será seu. O tempo que se usa vigiando a vida do outro seria muito mais bem aproveitado cuidando de suas próprias fragilidades humanas.

Padre Flávio Sobreiro
Colunista do Blog Evangelizando. (+ artigos)
Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). Estudou filosofia na PUC Campinas e teologia na Faculdade Católica de Pouso Alegre. Site: http://www.padreflaviosobreiro.com


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