7 de dezembro de 2013

Síria, Natal sem paz!

Síria, Natal sem paz!
No final da Audiência Geral da última quarta-feira, o Papa Francisco pediu orações pelas monjas que foram sequestradas nos dias passados no Mosteiro greco-ortodoxo de Santa Tecla, no vilarejo cristão de Maalula, na Síria. “Rezemos por essas irmãs e por todas as pessoas sequestradas por causa do atual conflito. Continuemos a rezar e a atuar pela paz”, foram as palavras do Pontífice. O drama do povo sírio retorna à atenção dos meios de comunicação, através das palavras do Santo Padre; um drama que se consuma sob o olhar da comunidade internacional.

O Bispo de Aleppo dos Caldeus, falando à Rádio Vaticano sobre o episódio, disse que as razões para o sequestro estão na própria guerra. “Nós, como cristãos, como Igreja na Síria, não queremos dizer que seja uma guerra contra os cristãos, porque nós queremos ser uma presença de reconciliação e de convivência. Esta é a nossa vocação. Não queremos provocações com os muçulmanos”.

O drama do povo sírio esteve e está no coração do Papa Francisco, como também esteve e está no coração do Papa emérito Bento XVI: ambos em várias ocasiões falaram dessa “aventura sem retorno” que causa somente dor, sofrimento e morte.

Já no último dia 7 de setembro, o Papa Francisco convocara o mundo inteiro para um dia de oração e jejum pela paz no mundo, pela Síria. Naquele dia o Santo Padre fez um vibrante apelo para que todos “trabalhem pela paz e reconciliação” para pôr fim à guerra, “que é sempre uma derrota para a humanidade”.

“Quando o homem só pensa em si mesmo, em seus próprios interesses, quando ele é seduzido pelos ídolos da dominação e do poder, quando ele se coloca no lugar de Deus, ele arruína todas as relações, arruína tudo. E isso abre as portas para a violência”, afirmou, em uma longa meditação sobre a “bondade da criação de Deus e o caos que provoca a violência entre irmãos”. Voltou, assim, ao tema da primeira missa de seu pontificado: o homem é chamado a ser “o guardião de seu irmão e da criação”.

Nos dias de hoje temos uma linguagem cada vez mais presente nas nossas sociedades, nos nosso países; é a linguagem da violência e da guerra, sinônimos para morte. A Paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a Humanidade. Por que então o homem busca a agressão ao próximo; impor suas idéias e opiniões com a força? A guerra, a violência, a dor, a morte não são exclusividade de um só povo, de uma só religião; vemos que são irmãos contra irmãos que entram na espiral da violência provocando naqueles que poderiam ser determinantes na paz, outra espiral, a espiral do silêncio.

Estamos vivendo o tempo do Advento, nos preparando para o nascimento do Senhor da Paz. Imaginemos como os nossos irmãos na Síria, no Líbano, no Oriente Médio estão vivendo essa espera. A luz do Senhor vem para iluminar todos, e não só uma parte da humanidade. Eles são nossos irmãos, que muitas vezes não podem nem sequer expressar a sua fé, e muitas vezes pelo fato de expressá-la são alvos de perseguição e de injustiças.

O grito da paz que tanto pede o Papa Francisco, elevou-se e eleva-se dos quatro cantos do mundo, mas ainda não foi suportado com fatos concretos. Basta pensar que na Síria, morre-se todos os dias por atentados e conflitos entre grupos armados. E neste universo de dor, também as crianças, mulheres e idosos pagam o alto preço da indiferença da comunidade internacional que se reúne, conversa, mas não decide.

As Nações Unidas informaram nesta semana terem entregado alimentos para 3,4 milhões de pessoas na Síria em novembro, mas novamente não cumpriu a meta mensal de 4 milhões com o intenso conflito impedindo o acesso a pessoas com fome em áreas sob disputa. Com a chegada do inverno, o número de crianças na Síria consideradas vulneráveis e com necessidade de assistência, praticamente quadruplicou em um ano para 4,3 milhões. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) “a escala da resposta humanitária necessária para o inverno é sem precedentes”. Crianças, como o Menino Jesus, que vivem nas manjedouras de hoje!

A mensagem de paz do Papa Francisco chegou e continua a chegar a todos os cantos do planeta para que os homens de boa vontade continuem a rezar pela Síria, e pelos países onde ainda existem conflitos armados. Que as pessoas sequestradas sejam respeitadas na sua dignidade e que ganhem a liberdade o quanto antes. Que as crianças nestas terras tenham o direito de serem crianças, de crescerem e se desenvolverem como qualquer outra que vive em lugares de paz. Que o silêncio das armas seja definitivo. Que os gritos que se ouvem sejam somente gritos de alegria e não de dor.

De novo é Natal, e de novo o Menino pede para nascer em nossos corações. Cabe a nós abrirmos a porta para que ele faça morada nas nossas vidas e não nasça novamente no frio da manjedoura das nossas indiferenças.

Silvonei José Protz
Colunista do Blog Evangelizando. (+ artigos)
Diocese de Roma (Itália). Doutor em comunicação e professor universitário em Roma. Jornalista da Rádio Vaticano: "a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o mundo".



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