3 de novembro de 2013

O melhor bem que possuímos

Nos dias 26 e 27 de outubro último, Roma foi invadida por milhares de famílias que vieram à Cidade Eterna para participar de uma grande festa “a céu aberto”, a festa da peregrinação "Família, vive a alegria da Fé". Roma e principalmente a Praça São Pedro e os seus arredores se transformaram no coração da família humana com a presença de casais de mais de 70 países. A manifestação foi organizada pelo Pontifício Conselho para a Família, no âmbito do Ano da Fé.

O melhor bem que possuímos

Quem esteve em Roma ou seguiu o evento pelos meios de comunicação não pode ficar indiferente à alegria contagiante, primeiramente dos casais com seus filhos reunidos – diria, num grande pic-nic da fé – e depois o sorriso e a ternura do Papa Francisco. Um dos momentos que chamou a atenção foi de um menino, que no afã de ficar perto Papa, chegou a se agarrar nas suas pernas: muitos nos escreveram que gostariam de estar no lugar daquela criança.

O Papa, como um avô, no meio de avós, sentados ao seu lado e de crianças na sua frente, não se fez por menos, e como sempre, dedicou momentos de afeto à pequena criatura que se sentia a vontade perto de Francisco, chegando a sentar na sua cadeira quando essa estava vazia.

Deixando de lado esse momento de real dimensão do pontificado do Papa Francisco, ou seja, da sua simplicidade para com todos, o Santo Padre voltou a repetir em três palavras a sua receita para uma vida feliz em família, já que ele estava falando para as famílias de todo o mundo: licença, obrigado, desculpe. O casal, disse o Papa tem necessidade da ajuda de Cristo para caminhar juntos com confiança, para acolher um ao outro todos os dias, e perdoar-se todos os dias! E isso é importante, nas famílias saber perdoar-se.

As três palavras-chave servem para levar avante uma família: nunca esquecer esse conselho: jamais terminar o dia sem fazer as pazes. A paz deve ser refeita todos os dias em família. Sem pedir desculpas é difícil recomeçar, e um novo começo serve sempre. Licença, obrigado e desculpe! Palavras simples mas muitas vezes difíceis de serem colocadas em prática. O unificador disso tudo é o amor, e quando falta amor, falta tudo, alegria, festa, esperança, futuro.

Essas três palavras do Papa nos fazem refletir quanto é simples encontrar o equilibro em nossa vida familiar, mas ao mesmo tempo quanto é difícil colocar em ato, gestos que podem transformar as nossas vidas. O matrimônio, a família, se renova sempre com gestos de paz, após momentos de tensões e discussões; quem não discute, só quem não respira, podemos dizer. Fazer as pazes é retomar a unidade; não é fácil este caminho mas o resultado é edificante.

O Papa Francisco não deixou de recordar ainda duas fases importantes da nossa vida familiar: a infância e a velhice. Muitos que estão lendo ou ouvindo esse texto já passaram pela primeira, e aguardam a segunda, se já não a vivem. São os dois extremos da vida e os momentos talvez mais vulneráveis de nossas vidas. Brota então a reflexão do tempo. O pouco tempo vivido, (a infância) e o muito tempo vivido (a velhice). Um é tempo de esperança, outro tempo de síntese, de distribuir experiência. Mas, nós dentro da família quanto tempo dedicamos a esses dois extremos?; aos nossos filhos e aos nossos pais e avós? São momentos de ternura e afeto pelos pequenos e de gratuidade para com os mais velhos; é um paradoxo, é um “perder tempo”, para ganhar vida. Francisco já observou várias vezes que uma sociedade que abandona as crianças e marginaliza os idosos corta as suas raízes e ofusca o seu futuro. “Cada vez que uma criança é abandonada e um idoso marginalizado, realiza-se não apenas um gesto de injustiça, mas sanciona-se também a falência da sociedade. Cuidar das crianças e dos idosos é uma escolha de civilização.

O encontro das famílias no Vaticano na semana passada foi mais uma “oxigenada” na vida de quem realmente vive esse sacramento com fé, dedicação, entusiasmo e amor. É na família, e na pertença à grande família da Igreja que podemos experimentar a alegria da fé. O segredo de tudo isto “é a presença de Jesus na família”, disse Papa Francisco. A melhor coisa que podemos ter é pertencer a uma família, pois a nossa família é o bem mais precioso que temos.

Silvonei José Protz
Colunista do Blog Evangelizando
Diocese de Roma (Itália). Doutor em comunicação e professor universitário em Roma. Jornalista da Rádio Vaticano: "a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o mundo".



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