Em um recente programa de divulgação científica, estava eu assistindo à descrição de como evoluiu a teoria do Big-Bang, sobre a formação do universo. Impressionante como o homem vai descobrindo as leis do cosmo, as constantes e os modelos e estruturas existentes na natureza!
À medida que o programa avançava ia me perguntando pela Inteligência, pelo Autor de tudo isso... Será mesmo que haveria uma? Claro que a pergunta aqui somente pode ser respondida no âmbito da metafísica e, em última análise, na fé, pois a ciência pode estudar os fenômenos, descobrir-lhes as leis reguladoras, mas jamais poderá responder se tais realidade maravilhosas são fruto do acaso ou de uma Inteligência, em outras palavras, se Deus existe ou não...
Afinal, no fundo, a questão é: Por que existe o ser e não o nada? Existem as coisas! Como exclamava Parmênides, admirado: “Existe o ser!”
Se nos deixarmos levar pela admiração, tão humana, tão primordial, diante do ser que existe, diante da realidade tão rica e misteriosa que nos envolve e penetra, perceberemos que o verdadeiro e mais fundamental problema não é “o que havia antes de tudo?”, mas, ainda mais radical: “Por que há alguma coisa em vez de nada haver?” Por que existe a matéria ou, como prefere hoje a maioria dos físicos, a energia ou os campos magnéticos?
O “como” surgiu tudo pertence sim ao domínio da ciência; mas, o “por que” surgiu e o “donde” surgiu, radicalmente falando, saindo tudo de um nada primordial, já não mais está ao alcance da física, mas envereda pelo campo da metafísica e da própria experiência religiosa!
Sim, sim! É realmente admirável: há o ser em vez do nada; há ordem em vez do caos, harmonia em vez do aleatório incontrolável! A própria ciência somente é possível por isso: pela ordem, pelas leis que ela descobre, interpreta, mas não criou... Se não formos mesquinhos e preconceituosos, essa constatação nos fascina e nos abre o coração para a possibilidade de uma Transcendência, de um Infinito, de uma Realidade anterior aos seres da qual todos os seres provêm e na qual todos os seres encontram a subsistência!
Recentemente, deparei-me, de cara e de coração, com um texto das Santas Escrituras, do capítulo 43 do Eclesiástico: “O sol, em espetáculo, proclama ao surgir:/ ‘Quão admirável é a obra do Altíssimo!’/ Grande é o Senhor que o fez e com Sua palavra apressa o seu curso./ Também a lua, sempre exata a mostrar os tempos, é sinal eterno./ É a lua que marca as festas, astro que decresce depois de sua cheia./ À palavra do Santo permanecem nos seus lugares e não se cansam de suas rondas./ Por Sua ordem ele faz cair a neve, lança relâmpagos segundo Seus decretos./ Segundo Seu plano, Ele subjugou o abismo, nele plantou as ilhas.
Os que percorrem o mar contam os seus perigos, e nós nos admiramos com o que ouvimos:/ ali existem coisas estranhas e maravilhas, animais de toda espécie e monstros marinhos./ Poderíamos nos estender sem esgotar o assunto; numa palavra: "Ele é tudo."/ Onde encontrar força para O glorificar? Porque Ele é grande, acima de todas as Suas obras,/ Senhor temível e soberanamente grande, Sua potência é admirável./ Que vossos louvores exaltem o Senhor, conforme podeis, porque Ele vos excede. Para O exaltar desdobrei vossas forças, não vos canseis, porque nunca chegareis ao fim./ Quem O viu para que O possa descrever? Quem O pode glorificar como Ele merece ?/ Ainda há muitos mistérios maiores do que esses, pois não vimos senão um pouco de Suas obras./ Porque foi o Senhor que criou tudo e aos homens piedosos deu a sabedoria”.
É impressionante! Aquilo que os cientistas olham com os olhos maravilhados, mas frios, do cálculo, e exprimem na dureza da linguagem matemática, o Autor sagrado contempla com a mesma admiração, só que, indo mais a fundo, ultrapassando o simples fenômeno, a simples realidade tal qual aparece, compreende que por trás de tudo está o Senhor, o Altíssimo. Estupefato, maravilhado, ele exclama a respeito do Criador: “Ele é tudo!” E toma consciência que o mistério do ser e da vida nos ultrapassa – sempre nos ultrapassará: “Ainda há muitos mistérios maiores do que esses, pois não vimos senão um pouco de Suas obras!”
Mas, o maior de todos os mistérios, o Mistério por excelência, fonte de tudo é Aquele mesmo Deus que nos ultrapassa totalmente: “Quem O viu para que O possa descrever? Quem O pode glorificar como Ele merece?” Aqui se cala a ciência, aqui fracassa a razão humana! Quem pode colher Deus? Quem pode vislumbrá-Lo? Quem pode perceber algo do Seu lampejo, da grandeza do Seu fulgor? O cientista? O estudioso? O erudito? O soberbo? Não, certamente! “Foi o Senhor que criou tudo e aos homens piedosos deu a sabedoria!” Eis! Somente o sábio, aquele que sabe contemplar, que sabe compreender toda grandeza e todo limite do homem... Somente esse percebe o Senhor em todas as Suas criaturas. Cientista ou não, somente a esses Deus Se revela!
Que você, meu caro Amigo, saiba percebê-Lo na criação, escutá-Lo na Palavra Santa e vislumbrá-Lo nos ritos da santa Liturgia, que torna presente os gestos de Jesus, Infinito feito um de nós, de feições, atitudes e palavras humanas!
Colaborador do Blog Evangelizando
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju - SE
Site: http://www.domhenrique.com.br/
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